Onani Master Kurosawa é um dos mangás mais aclamados na web pelos otakus – E a despeito do titulo, que no primeiro momento te dá uma sensação de incredulidade, juntamente com a sinopse quase que é praticamente um plot de um hentai qualquer, é uma série recomendada por pessoas que possuem uma opinião relevante, como o Kauê do blog Otakismo, @Nintakun do Mangás Cult e @ojudeuateu do MangásUnderground. Isso para ficar apenas nos blogs parceiros, porque há tantas outras pessoas sérias que arrotam elogios para Onani Master Kurosawa e diante de TAAAANTOS blogs que recomendaram sua leitura;
A sinopse é inusitada, como pode uma série ser interessante,
girando em torno de um adolescente que tem o habito de todos os dias
usar o banheiro da escola para se masturbar para uma garota diferente? A
resposta é simples, usar um tabu como meio de desenvolver uma história
ainda maior, explorando conceitos da natureza humana e todo o lado
psicólogo do personagem título. A masturbação ainda é um tabu mundial,
imagine então para uma sociedade tão conservadora quanto à japonesa? Se
aqui no Brasil, um professor tocar no assunto em uma sala de aula já
seria algo como “pisar em ovos”, para as garotas é ainda mais grotesco –
apesar do assunto vir sempre à tona nos grupos ou panelinhas, não é
algo que se fala tão abertamente. No geral, para as garotas, isso de
“ser homenageada”, é algo completamente enojante só de pensar. E é
exatamente nessa estranheza que a história se desenvolve e dá seus
primeiros passos a um dos “plot twist” mais torturantes que eu já tive o
prazer de ler em um mangá.
Kurosawa Kakeru é um daqueles típicos personagens introspectivos, frios e
metódicos, que não curtem se socializar, considerando muitas das
pessoas que fazem parte do seu convívio, patéticas. Um anti-herói. Assim
como OMK (Onani Master Kurosawa) é uma parodia consciente de Death Note (tanto que ganhou o apelido de Fap Note, na web),
seu protagonista, Kurosawa é uma caricatura bem obvia de Light Yagami,
com todos os seus monólogos introspectivos, egocentrismo e aquele
feeling outsider. Korosawa, assim como (imagino eu) todo garoto,
tem o habito de se masturbar para as garotas que mais lhe atraem na
escola, seja por uma saia curta, cruzada de pernas, sua forma de agir –
Ele grava todos os gestos involuntários das garotas na mente para usar
na sua sórdida fantasia. Mas as fantasias de Kurosawa não se resumem a
usar a imaginação, ele tem um habito de todos os dias após o termino das
aulas, ir até o deserto banheiro feminino e se masturbar pensando em
alguma garota da escola, a sua vítima.
Mas em uma de suas "atividades diárias", ao qual ele mesmo define
seu fantasioso fetiche, acaba sendo flagrado por uma de suas colegas de
classe, a igualmente introvertida, Kitahara. A partir de então, OMK dá
um giro de 360º e nos mostra o motivo de ser aplaudido e tido como uma
das melhores histórias já escritas. O mangá tem um apelo psicológico
incrível e consegue ser envolvente em todos os sentidos.
Desenvolvimento
O fato de OMK ser comparado a Death Note, vai mais além do que eu
comentei ali em cima. Além da tensão e forte carga psicológica presente
no enredo denso e inquietante, temos a própria premissa básica da série
mais famosa de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Julgando a sociedade como hipócrita e imbecil, Korosawa usa suas "atividades diárias",
também como forma de se livrar do stress. Em suas fantasias, ele
violenta e pune sadicamente a garota em questão por qualquer ato que ela
tenha praticado durante o dia, que o tenha irritado de alguma forma ou
que o mesmo considere inadequado. As cenas são fortes, mesmo que
implícitas visualmente e esse é um dos méritos dos autores de OMK. Temos
o clímax dessa linha de pensamento quando ele vê os constantes abusos físicos que Kitahara sofre de suas colegas,
ao qual a história passa a trabalhar mais a questão do bulliyng de
forma altamente satisfatória. Difícil que nenhuma das situações ao qual
Kitahara acaba sendo vítima, não mecha com os instintos de quem está
lendo. É ai que Korosawa se transforma no herói às avessas e resolve
punir as garotas, sujando as publicamente.
Eu comentei lá em cima que só a ideia de alguém estar te utilizando em
suas fantasias pervertidas, é algo completamente nojento, imagine você,
otaquinha que está lendo esse texto, ter uma de suas peças íntimas ou
pertences pessoas sujados por esperma e pior, ter essa vergonha exposta
para toda a classe? Essa é a síntese de OMK, onde o protagonista se
vinga das garotas, expondo-as em seu ponto mais frágil. Depois de ser
flagrado por Kitahara e ela saber que ele é o autor por trás dos
incidentes envolvendo suas algozes, a vida de Korosawa se transforma em
um pesadelo, pois a até então, sendo apenas a figura de uma frágil garota, resolve usa-lo em um perigoso jogo de punição e vingança contra todos aquelas que a maltratam.
OMK tem capítulos que são perturbadores, inquietantes, onde em cada final, o cliffhanger é como se fosse uma facada no coração.
É divertido ver em como as situações limites de cada capitulo até
então, nos leva a reflexão, onde um “Kurosawa Kira” pratica a justiça à
sua própria maneira. E levar o leitor a pensar é outra característica de
OMK, pois em meio a todos os atos de vingança, onde Kurosawa pouco se
importa pelo fato de estar sendo manipulado, outras histórias vão se
desenvolvendo e várias questões veem a tona. Aquele é um jogo
explicitamente perigoso, onde Kitahara é tão abusada e discriminada, que
não consegue mais medir as consequências de seus atos, e Kurosawa
percebe isso. Mas já está completamente envolvido naquela doentia roleta
russa.
Um romance, um copo de cólera
Descrevendo da forma como fiz acima, faz se pensar que OMK é um desses seinens (mangás voltados a um publico, teoricamente, adulto)
pautado no alto teor psicológico e dramático. O que é verdade. Mas não é
apenas isso. A história passa por vários estágios, indo da involuntária
comédia do dia-a-dia que envolve Kurosawa e sua conturbada relação com
os colegas de classe, passando pela descoberta do amor e terminando no
ponto que mais interessa: O crescimento. OMK é uma história sobre CRESCER,
o importante momento em que você abandona sua despreocupada
adolescência e tem que encarar questões complicadas na passagem para o
mundo adulto.
Particularmente,
os dois primeiros capítulos não me cativaram. O que vi foi apenas o
monologo de um garoto entediado e que passava os dias se masturbando no
banheiro feminino. A introdução é ótima, porém o hype é maior e você
sempre espera já de cara por algo completamente avassalador. Mas o tom
de “comédia escolar” e de que nada de importante poderá acontecer é
quebrado. A história fica extremante envolvente, Korosawa
surpreendentemente encontra o amor e novamente a narrativa é quebrada
violentamente. O romance, o clima de chuva caindo, encontros inesperados
na biblioteca da escola e uma promessa romântica, dá lugar à cólera. Eu
fiquei completamente sem reação, sem folego, atordoada, devo ter ficado
alguns bons segundos com a mão sobre minha boca aberta, completamente
sem reação. Estava na metade dos 31 capítulos, e os autores, Takume
Yokota (arte) e Ise Katsura (roteiro), fazem uma reviravolta completamente impensável naquela altura do campeonato. Todo o capitulo “Bizarre Love Triangle”
e posteriormente a ele, foram lidos numa compulsão violenta e não
apenas fui surpreendida a cada página, como também não pude deixar de
notar a bela homenagem á clássica música da banda New Order. A
letra da música se completa perfeitamente com a premissa do momento mais
negro e obscuro da história de OMK – Posso dizer que se trata da trilha
sonora daquele momento.
Crítica
Nesse ponto, a história chega ao seu momento mais crível e psicológico.
Cada capítulo uma surpresa e assim, até chegarmos naquele que para mim, é
o divisor de águas do título, o quarto volume. A tensão dá lugar à
reflexão e a história perde o seu propósito. Ou ao menos, essa é
sensação que fica ao ler cada capitulo desse volume. Ao final da
história, você tem a nítida ideia do que os autores quiseram passar, mas
que acabaram se perdendo na narrativa e contradizendo o próprio roteiro
até então. O que temos é uma ótima ideia, executada de forma magistral,
mas que não consegue satisfazer plenamente no seu desfecho ao apelar
para recursos baratos que a própria série fez questão de exorcizar a
todo o momento.
Ao se acovardar diante os rumos que a história vinha
tomando, temos um desfecho maçante e puxado que tenta a todo o momento
te convencer pelo lado emocional, que na determinada conjectura não
convence e não tem mais lugar. O lado crível dá lugar a velhos clichês
de romance, que conta além do desfecho manjado, com o maior crime que um
autor pode fazer com sua obra: Alterar completamente a personalidade de seus personagens sem a menor justificativa plausível.
Ver um Kurosawa tão condescendente e apático, não é apenas sofrível,
como também um insulto para a minha inteligência, onde o auge foi termos
que engolir um final criado nas coxas – Até uma tsundere dá o ar da
graça. Não me intendam mal, foi bonitinho, mas completamente descabido.
Eu me vi saindo de um Death Note e entrando de cabeça nesses romances
shounens, praticamente um Toradora (que a propósito, é um dos meus
animes preferidos). Me senti imensamente trollada. A mensagem final dos autores é válida, mas a sua construção não.
Além do mangá, ainda houve uma novel, Afther the Juvenile, uma
história bem curtinha que reafirma a ideia sobre o abandono da
adolescência, dessa vez escrita somente por Takuma Yokota, o desenhista.
Bem interessante e importante para a total compreensão de tudo, mas
dessa vez sem os delírios idealistas do último volume do mangá,
sendo mais condizente com a proposta e sem forçar situações para atingir
uma catarse completamente purista da história original. Termina “com nada resolvido”, assim como é na vida, como um breve momento na fila de um supermercado
em que você acaba sabendo um pouco mais sobre a vida de uma pessoa
desconhecida que conta para outra, algum detalhe do seu cotidiano, mas
que você acaba ficando sem saber como termina por que chegou a vez dela
no caixa.
Comentários gerais
Sinceramente, não acho que eu tenha sido um pouco dura na crítica,
analisando da forma que for não é um desfecho convincente e muito menos
aceitável. Certamente é algo que apaga um pouco o brilho de OMK,
querendo ou não, a forma como um autor coloca o ponto final em sua
história, pesa bastante para sua nota final. O caso de OMK me lembra
bastante o de Tsubasa Reservoir Chronicle e xxxHOLiC, mangás coirmãos produzidos pelo grupo CLAMP,
que tinham tudo para se tornarem a melhor obra das mangakas, mas elas
se deixaram cegar pelo esplendor provocado pelo sucesso alcançado e não
souberam concluir a excelente história que tinham em mãos. Mas OMK tem
méritos suficientes para que ninguém deixe de lê-lo.
A começar pelo fato de que se trata de um web-mangá. OMK é o melhor doujin já feito, muito superior inclusive a qualquer mangá profissional lançado nas antologias
de renome – Quanto a isso, não há como discordar. Por mais que haja um
culto, onde a série é super valorizada e apontada como um obra prima, o
sucesso que ela tem alcançado mundialmente pela web, é justificável. O
próprio fato de ser um doujin, uma história feita por amadores e
divulgada na internet, é uma justificativa para todo esse misticismo.
Mas ser considerado o melhor doujin já produzido, sem dúvidas é mais do
que justo, apesar de que Evangelion RE-TAKE,
consegue ficar no mesmo patamar no quesito história, te dando inclusive
um desfecho bem mais coerente. Mas há de se levar em consideração o
fato de OMK ser uma história criada completamente do zero, original e
não uma releitura de outra já existente. Fora de ter sido feita por
amadores – Gostaria muito de ler outras histórias dessa dupla, se fosse
possível.
OMK tem várias referências que vão muito além de Death Note, indo também de Code Geass a Haruhi,
fora outras tantas referências que escapam por falta de conhecimento. O
elenco de personagens são bem diversos e todos carismáticos a sua
maneira. Fizeram uma bela construção ai, onde a base dos personagens que
ceram o Kurosawa, é o grupo de rejeitados da escola, os otakus. O
character designer é bem original e atraente, não é bonito, mas também
não é feio. É meio torto e esteticamente inconsistente, mas é um estilo
que torna a arte de Takuma Yokota bem característica, como a de Sakae Esuno, autor de Mirai Nikki.
Os enquadramentos também não deixam nada a dever para os profissionais e
em muitos casos, superando-os. Todo o traçado do mangá foi feito a
lápis, com exceção das capas de cada volume ou algum extra. O background
é simplista, mas meio rebuscado e nota-se uma criatividade interessante
ao compensar o fato de ser tudo feito a lápis, com um estilo bem
áspero. Eu tinha outra opinião, mas pensando melhor, não teria sido tão atraente se a arte gráfica fosse mais limpa e produzida com retoques profissionais, como foi o caso de Re-Take.
Sabemos que atualmente, a lei que rege o mercado de mangás, é a da
beleza, aonde se chega ao ponto de ser ler um mangá somente pelo traço
exuberante de seu autor e a concepção gráfica. Porém, é muito
revigorante quando encontramos algo que não é descartável quando se
chega ao fim e que te dá à oportunidade de refletir sobre algo – Mas
também funciona como apenas um entretenimento barato, onde a história já
se faz um excelente “passatempo”. Onani Master Kurosawa é nostálgico,
mesmo que eu realmente não tenha curtido como o desfecho foi
desenvolvido, conseguiu me arrancar lágrimas ao me fazer lembrar de
situações já vividas. Desilusão, planos para o futuro e o difícil
momento de ser virar as costas para sua vida escolar, fazem de “O Mestre
da Masturbação” (Onani = Mastubação/ Master= Mestre), uma
verdadeira salada de frutas que merece ser apreciada e vou frisar
novamente caso não tenha sido suficientemente clara, não se trata de uma
série hentai, apesar de ser bem forte graficamente para o “paladar” de
algumas pessoas. Leitura recomendada principalmente pra quem procura
séries envolventes e com alto teor psicológico.
Arte: Takuma Yokota
Roteiro: Ise Katsura
Ano: 2005
Status: 31 capítulos (completo)
Demografia: Seinen
Gênero: Doujinshi, Psicológico, Drama, AdultoDownload Wallpaper Onani Master Kurosawa
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