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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Onani Master Kurosawa



Onani Master Kurosawa é um dos mangás mais aclamados na web pelos otakus – E a despeito do titulo, que no primeiro momento te dá uma sensação de incredulidade, juntamente com a sinopse quase que é praticamente um plot de um hentai qualquer, é uma série recomendada por pessoas que possuem uma opinião relevante, como o Kauê do blog Otakismo, @Nintakun  do Mangás Cult e @ojudeuateu do MangásUnderground. Isso para ficar apenas nos blogs parceiros, porque há tantas outras pessoas sérias que arrotam elogios para Onani Master Kurosawa e diante de TAAAANTOS blogs que recomendaram sua leitura;

 A sinopse é inusitada, como pode uma série ser interessante, girando em torno de um adolescente que tem o habito de todos os dias usar o banheiro da escola para se masturbar para uma garota diferente? A resposta é simples, usar um tabu como meio de desenvolver uma história ainda maior, explorando conceitos da natureza humana e todo o lado psicólogo do personagem título. A masturbação ainda é um tabu mundial, imagine então para uma sociedade tão conservadora quanto à japonesa? Se aqui no Brasil, um professor tocar no assunto em uma sala de aula já seria algo como “pisar em ovos”, para as garotas é ainda mais grotesco – apesar do assunto vir sempre à tona nos grupos ou panelinhas, não é algo que se fala tão abertamente. No geral, para as garotas, isso de “ser homenageada”, é algo completamente enojante só de pensar. E é exatamente nessa estranheza que a história se desenvolve e dá seus primeiros passos a um dos “plot twist” mais torturantes que eu já tive o prazer de ler em um mangá.

Kurosawa Kakeru é um daqueles típicos personagens introspectivos, frios e metódicos, que não curtem se socializar, considerando muitas das pessoas que fazem parte do seu convívio, patéticas. Um anti-herói. Assim como OMK (Onani Master Kurosawa) é uma parodia consciente de Death Note (tanto que ganhou o apelido de Fap Note, na web), seu protagonista, Kurosawa é uma caricatura bem obvia de Light Yagami, com todos os seus monólogos introspectivos, egocentrismo e aquele feeling outsider. Korosawa, assim como (imagino eu) todo garoto, tem o habito de se masturbar para as garotas que mais lhe atraem na escola, seja por uma saia curta, cruzada de pernas, sua forma de agir – Ele grava todos os gestos involuntários das garotas na mente para usar na sua sórdida fantasia. Mas as fantasias de Kurosawa não se resumem a usar a imaginação, ele tem um habito de todos os dias após o termino das aulas, ir até o deserto banheiro feminino e se masturbar pensando em alguma garota da escola, a sua vítima.
Mas em uma de suas "atividades diárias", ao qual ele mesmo define seu fantasioso fetiche, acaba sendo flagrado por uma de suas colegas de classe, a igualmente introvertida, Kitahara. A partir de então, OMK dá um giro de 360º e nos mostra o motivo de ser aplaudido e tido como uma das melhores histórias já escritas. O mangá tem um apelo psicológico incrível e consegue ser envolvente em todos os sentidos.
 Desenvolvimento
O fato de OMK ser comparado a Death Note, vai mais além do que eu comentei ali em cima. Além da tensão e forte carga psicológica presente no enredo denso e inquietante, temos a própria premissa básica da série mais famosa de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Julgando a sociedade como hipócrita e imbecil, Korosawa usa suas "atividades diárias", também como forma de se livrar do stress. Em suas fantasias, ele violenta e pune sadicamente a garota em questão por qualquer ato que ela tenha praticado durante o dia, que o tenha irritado de alguma forma ou que o mesmo considere inadequado. As cenas são fortes, mesmo que implícitas visualmente e esse é um dos méritos dos autores de OMK. Temos o clímax dessa linha de pensamento quando ele vê os constantes abusos físicos que Kitahara sofre de suas colegas, ao qual a história passa a trabalhar mais a questão do bulliyng de forma altamente satisfatória. Difícil que nenhuma das situações ao qual Kitahara acaba sendo vítima, não mecha com os instintos de quem está lendo. É ai que Korosawa se transforma no herói às avessas e resolve punir as garotas, sujando as publicamente. 
Eu comentei lá em cima que só a ideia de alguém estar te utilizando em suas fantasias pervertidas, é algo completamente nojento, imagine você, otaquinha que está lendo esse texto, ter uma de suas peças íntimas ou pertences pessoas sujados por esperma e pior, ter essa vergonha exposta para toda a classe? Essa é a síntese de OMK, onde o protagonista se vinga das garotas, expondo-as em seu ponto mais frágil. Depois de ser flagrado por Kitahara e ela saber que ele é o autor por trás dos incidentes envolvendo suas algozes, a vida de Korosawa se transforma em um pesadelo, pois a até então, sendo apenas a figura de uma frágil garota, resolve usa-lo em um perigoso jogo de punição e vingança contra todos aquelas que a maltratam.
 OMK tem capítulos que são perturbadores, inquietantes, onde em cada final, o cliffhanger é como se fosse uma facada no coração. É divertido ver em como as situações limites de cada capitulo até então, nos leva a reflexão, onde um “Kurosawa Kira” pratica a justiça à sua própria maneira. E levar o leitor a pensar é outra característica de OMK, pois em meio a todos os atos de vingança, onde Kurosawa pouco se importa pelo fato de estar sendo manipulado, outras histórias vão se desenvolvendo e várias questões veem a tona. Aquele é um jogo explicitamente perigoso, onde Kitahara é tão abusada e discriminada, que não consegue mais medir as consequências de seus atos, e Kurosawa percebe isso. Mas já está completamente envolvido naquela doentia roleta russa.

Um romance, um copo de cólera
Descrevendo da forma como fiz acima, faz se pensar que OMK é um desses seinens (mangás voltados a um publico, teoricamente, adulto) pautado no alto teor psicológico e dramático. O que é verdade. Mas não é apenas isso. A história passa por vários estágios, indo da involuntária comédia do dia-a-dia que envolve Kurosawa e sua conturbada relação com os colegas de classe, passando pela descoberta do amor e terminando no ponto que mais interessa: O crescimento. OMK é uma história sobre CRESCER, o importante momento em que você abandona sua despreocupada adolescência e tem que encarar questões complicadas na passagem para o mundo adulto. 
Particularmente, os dois primeiros capítulos não me cativaram. O que vi foi apenas o monologo de um garoto entediado e que passava os dias se masturbando no banheiro feminino. A introdução é ótima, porém o hype é maior e você sempre espera já de cara por algo completamente avassalador. Mas o tom de “comédia escolar” e de que nada de importante poderá acontecer é quebrado. A história fica extremante envolvente, Korosawa surpreendentemente encontra o amor e novamente a narrativa é quebrada violentamente. O romance, o clima de chuva caindo, encontros inesperados na biblioteca da escola e uma promessa romântica, dá lugar à cólera. Eu fiquei completamente sem reação, sem folego, atordoada, devo ter ficado alguns bons segundos com a mão sobre minha boca aberta, completamente sem reação. Estava na metade dos 31 capítulos, e os autores, Takume Yokota (arte) e Ise Katsura (roteiro), fazem uma reviravolta completamente impensável naquela altura do campeonato. Todo o capitulo “Bizarre Love Triangle” e posteriormente a ele, foram lidos numa compulsão violenta e não apenas fui surpreendida a cada página, como também não pude deixar de notar a bela homenagem á clássica música da banda New Order. A letra da música se completa perfeitamente com a premissa do momento mais negro e obscuro da história de OMK – Posso dizer que se trata da trilha sonora daquele momento.
 Crítica
Nesse ponto, a história chega ao seu momento mais crível e psicológico. Cada capítulo uma surpresa e assim, até chegarmos naquele que para mim, é o divisor de águas do título, o quarto volume. A tensão dá lugar à reflexão e a história perde o seu propósito. Ou ao menos, essa é sensação que fica ao ler cada capitulo desse volume. Ao final da história, você tem a nítida ideia do que os autores quiseram passar, mas que acabaram se perdendo na narrativa e contradizendo o próprio roteiro até então. O que temos é uma ótima ideia, executada de forma magistral, mas que não consegue satisfazer plenamente no seu desfecho ao apelar para recursos baratos que a própria série fez questão de exorcizar a todo o momento. 
 Ao se acovardar diante os rumos que a história vinha tomando, temos um desfecho maçante e puxado que tenta a todo o momento te convencer pelo lado emocional, que na determinada conjectura não convence e não tem mais lugar. O lado crível dá lugar a velhos clichês de romance, que conta além do desfecho manjado, com o maior crime que um autor pode fazer com sua obra: Alterar completamente a personalidade de seus personagens sem a menor justificativa plausível. Ver um Kurosawa tão condescendente e apático, não é apenas sofrível, como também um insulto para a minha inteligência, onde o auge foi termos que engolir um final criado nas coxas – Até uma tsundere dá o ar da graça. Não me intendam mal, foi bonitinho, mas completamente descabido. Eu me vi saindo de um Death Note e entrando de cabeça nesses romances shounens, praticamente um Toradora (que a propósito, é um dos meus animes preferidos). Me senti imensamente trollada. A mensagem final dos autores é válida, mas a sua construção não. 
Além do mangá, ainda houve uma novel, Afther the Juvenile, uma história bem curtinha que reafirma a ideia sobre o abandono da adolescência, dessa vez escrita somente por Takuma Yokota, o desenhista. Bem interessante e importante para a total compreensão de tudo, mas dessa vez sem os delírios idealistas do último volume do mangá, sendo mais condizente com a proposta e sem forçar situações para atingir uma catarse completamente purista da história original. Termina “com nada resolvido”, assim como é na vida, como um breve momento na fila de um supermercado em que você acaba sabendo um pouco mais sobre a vida de uma pessoa desconhecida  que conta para outra, algum detalhe do seu cotidiano, mas que você acaba ficando sem saber como termina por que chegou a vez dela no caixa.
 Comentários gerais
Sinceramente, não acho que eu tenha sido um pouco dura na crítica, analisando da forma que for não é um desfecho convincente e muito menos aceitável. Certamente é algo que apaga um pouco o brilho de OMK, querendo ou não, a forma como um autor coloca o ponto final em sua história, pesa bastante para sua nota final. O caso de OMK me lembra bastante o de Tsubasa Reservoir Chronicle e xxxHOLiC, mangás coirmãos produzidos pelo grupo CLAMP, que tinham tudo para se tornarem a melhor obra das mangakas, mas elas se deixaram cegar pelo esplendor provocado pelo sucesso alcançado e não souberam concluir a excelente história que tinham em mãos. Mas OMK tem méritos suficientes para que ninguém deixe de lê-lo. 
A começar pelo fato de que se trata de um web-mangá. OMK é o melhor doujin já feito, muito superior inclusive a qualquer mangá profissional lançado nas antologias de renome – Quanto a isso, não há como discordar. Por mais que haja um culto, onde a série é super valorizada e apontada como um obra prima, o sucesso que ela tem alcançado mundialmente pela web, é justificável. O próprio fato de ser um doujin, uma história feita por amadores e divulgada na internet, é uma justificativa para todo esse misticismo. Mas ser considerado o melhor doujin já produzido, sem dúvidas é mais do que justo, apesar de que Evangelion RE-TAKE, consegue ficar no mesmo patamar no quesito história, te dando inclusive um desfecho bem mais coerente. Mas há de se levar em consideração o fato de OMK ser uma história criada completamente do zero, original e não uma releitura de outra já existente. Fora de ter sido feita por amadores – Gostaria muito de ler outras histórias dessa dupla, se fosse possível.
OMK tem várias referências que vão muito além de Death Note, indo também de Code Geass a Haruhi, fora outras tantas referências que escapam por falta de conhecimento. O elenco de personagens são bem diversos e todos carismáticos a sua maneira. Fizeram uma bela construção ai, onde a base dos personagens que ceram o Kurosawa, é o grupo de rejeitados da escola, os otakus. O character designer é bem original e atraente, não é bonito, mas também não é feio. É meio torto e esteticamente inconsistente, mas é um estilo que torna a arte de Takuma Yokota bem característica, como a de Sakae Esuno, autor de Mirai Nikki. Os enquadramentos também não deixam nada a dever para os profissionais e em muitos casos, superando-os. Todo o traçado do mangá foi feito a lápis, com exceção das capas de cada volume ou algum extra. O background é simplista, mas meio rebuscado e nota-se uma criatividade interessante ao compensar o fato de ser tudo feito a lápis, com um estilo bem áspero. Eu tinha outra opinião, mas pensando melhor, não teria sido tão atraente se a arte gráfica fosse mais limpa e produzida com retoques profissionais, como foi o caso de Re-Take. 
Sabemos que atualmente, a lei que rege o mercado de mangás, é a da beleza, aonde se chega ao ponto de ser ler um mangá somente pelo traço exuberante de seu autor e a concepção gráfica. Porém, é muito revigorante quando encontramos algo que não é descartável quando se chega ao fim e que te dá à oportunidade de refletir sobre algo – Mas também funciona como apenas um entretenimento barato, onde a história já se faz um excelente “passatempo”. Onani Master Kurosawa é nostálgico, mesmo que eu realmente não tenha curtido como o desfecho foi desenvolvido, conseguiu me arrancar lágrimas ao me fazer lembrar de situações já vividas. Desilusão, planos para o futuro e o difícil momento de ser virar as costas para sua vida escolar, fazem de “O Mestre da Masturbação” (Onani = Mastubação/ Master= Mestre), uma verdadeira salada de frutas que merece ser apreciada e vou frisar novamente caso não tenha sido suficientemente clara, não se trata de uma série hentai, apesar de ser bem forte graficamente para o “paladar” de algumas pessoas. Leitura recomendada principalmente pra quem procura séries envolventes e com alto teor psicológico. 
Arte: Takuma Yokota
Roteiro: Ise Katsura
Ano: 2005
Status: 31 capítulos (completo)
Demografia: Seinen
Gênero: Doujinshi, Psicológico, Drama, Adulto

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